Em 1975 John Fogerty concedeu uma das suas raras entrevistas após a separação dos Creedence Clearwater Revival, numa altura em que estava lançando o seu segundo album a solo "John Fogerty" pela editora Asylum Records.
MM - John, você está lançando o seu novo album a solo, quais são as suas expectativas ?
JF - Espero que tudo corra bem, mas estamos a ser processados pela minha antiga editora.
MM - Em que se baseia essa acusação ?
JF - A Fantasy Records alega a minha ligação à editora através do antigo contrato dos CCR.
MM - Como isso é possível ?
JF - Eles alegam que contratualmente ainda lhes devo no mínimo 8 albuns.
MM - E a Asylum Records também está sendo processada ?
JF - Sim, a Asylum foi arrastada para o processo por ter assinado um contrato comigo e pelo lançamento deste album.
MM - Você já tinha lançado um primeiro album a solo pela Fantasy ?
JF - Sim, lancei um album de covers de musica country usando o pseudónimo The Blue Ridge Rangers para me distanciar um pouco dos CCR.
MM - Porquê um album só de covers da música country ?
JF - O album é uma homenagem à minha mãe que era uma grande fan da musica country.
MM - O album teve uma aceitação moderada, esperava melhor ?
JF - Não, o sucesso relativo desse album foi o que se espera de um album de musica country.
MM - Como é que nasceu a ideia para esse album ?
JF - Os CCR ensaiavam muito, umas 8 horas por dia, para relaxar divertia-nos a tocar clássicos da música country e foi a partir daí que nasceu esta ideia depois da separação dos CCR.
MM - Ainda como The Blue Ridge Rangers chegou a lançar um novo single não incluído nesse album ?
JF - Sim, depois do lançamento do album lançei um novo single com 2 temas originais "You Don´t Owe Me" e "Back In The Hills" que foi mal promovido pela editora que já tinha entrado em litígio comigo e acabou por descatalogar o disco.
MM - Isso naturalmente o chateou ?
JF - Não muito, até porque eu estava a tentar livrar-me do contrato com essa editora, mas não deixei de ficar surpreendido por terem boicotado o disco, eles reclamavam que eu ainda lhes devia 8 albuns.
MM - Isso aconteceu também com o disco seguinte que lançou já em nome próprio ?
JF - Sim, em 1973 lancei um novo single com o original "Comin´Down The Road" que além da editora Fantasy o ter lançado com uma muito má prensagem que "matou" o disco ainda o boicotou acabando também por o descatalogar.
MM - Isso fez-lhe mudar de editora ?
JF - Era inevitável, mas mudar de editora era um desejo antigo que já vinha dos tempos dos CCR já que eles negavam renegociar o contrato com melhores vantagens para nós.
MM - Há alguma possibilidade de reunião dos CCR ?
JF - Enquanto decorrer no tribunal o litígio que me opõe contra a Fantasy e Saul Zaents isso nunca acontecerá porque isso significa voltar a trabalhar para eles, o tribunal terá primeiro que se pronunciar se o contrato que eles alegam possuir se é legalmente válido ao não.
MM - Mas assinou contrato com a Asylym ?
JF - Sim, mas para isso tive de abrir mão dos direitos de autor de muitas canções dos CCR a favor da Jondora Music, a publisher controlada pela Fantasy Records, foi a maneira que eles encontraram para poder continuar a me roubar.
MM - Existe alguma forma legal nisso ?
JF - Meus advogados e consultores jurídicos dizem que não, por isso estão a tratar disso nas salas do tribunal.
MM - No ano passado (1974) participou no album "Zephyr National" de seu irmão Tom Fogerty lançado pela Fantasy, que também tem a participação de Doug Clifford e Stu Cook, isso é curioso já que veio a público que as vossas relações não são das melhores, certo ?
JF - As minhas relações com Tom, Doug e Stu, de facto não são as melhores, eles colocaram-se contra mim e apoiam as decisões de Saul Zaentz e a Fantasy tudo isso por uma questão economica financeira, então isso acabou por quebrar aquela grande e velha amizade que existia entre nós no passado.
MM - E a sua participação no album do Tom ?
JF - Eu tinha ido aos escritórios da Fantasy tratar de uns assuntos legais e alguém disse-me que Tom estava no antigo estudio de ensaio dos CCR a gravar o seu novo album, como precisava de levantar algum material meu que estava lá a apanhar pó, desci até ao estudio, e encontrei-os todos lá, o meu irmão Bob aproveitou para tirar algumas fotografias, depois o Tom pediu-me para eu "meter" a guitarra em dois ou três temas, acabei por aceitar fazê-lo com a condição de ser no meu estúdio particular, então o Tom passou-me as bobines com a sessão ritmica já gravada que levei para o meu estúdio e gravei os overdubs de guitarra em 3 temas, foi isso que na verdade aconteceu.
MM - E qual é o conceito deste novo album a solo ?
JF - Neste album tentei fazer uma aproximação à sonoridade dos CCR, mas também tem algumas influências da musica soul e country, acho que é um bom album bastante equilibrado.
MM - Bem... John, boa sorte para este novo trabalho.
JF - Obrigado !
NOTA :
Devido o litígio legal entre John Fogerty e a Fantasy Records, envolvendo também a Asylum, a distribuição e promoção do album "JOHN FOGERTY" de 1975 ficou bastante comprometida e o album não fez o sucesso esperado devido a isso, mas é um bom album e talvez é o album de John Fogerty que mais se aproximou daquilo que ele já tinha feito nos CCR (Creedence Clearwater Revival), no conceito geral poderia ter sido um novo album dos CCR.
Por via legal a distribuição deste album ficou a cargo da Asylum Records nos Estados Unidos da America e pela Fantasy Records na Europa o que complicou a sua divulgação em maior escala. Hoje é considerado um album de culto e vendido a preços "proíbidos".
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