Chamaram-lhe “o último dos grandes produtores independentes”
americanos, muito embora os filmes que tenha produzido não ultrapassem
os dedos das duas mãos.
Mas esses filmes chegam e
sobram para Saul Zaentz, que morreu em São Francisco na sexta-feira, aos
92 anos de idade, justificar o epíteto: Voando Sobre um Ninho de Cucos, Amadeus, A Insustentável Leveza do Ser, O Paciente Inglês...
Filmes em que Hollywood não quis arriscar e que Zaentz financiou quase
inteiramente sozinho. Das nove produções com o seu nome, três venceram o
Óscar de Melhor Filme.
Filho de imigrantes judeus
polacos, que chegou a ganhar dinheiro como jogador profissional e que
assegurou os direitos para o cinema das obras de J. R. R. Tolkien O Senhor dos Anéis e O Hobbit,
Zaentz começou por deixar marca no mundo da música. Contratado como
vendedor na década de 1950 pela discográfica de São Francisco Fantasy,
subiria rapidamente na hierarquia até, em 1967, liderar um consórcio de
funcionários que comprou a empresa.
Sob a sua
direcção, a editora construiu um catálogo de peso na área do jazz,
adquirindo pequenas companhias como a Prestige, a Riverside ou a Stax, e
assinou contrato com os Creedence Clearwater Revival de John Fogerty,
uma das bandas rock americanas de maior sucesso da década de 1970. A
banda tornou-se numa “máquina de fazer dinheiro” para a Fantasy, e
Zaentz e Fogerty passariam os vinte anos seguintes em litígio judicial,
devido ao contrato assinado em 1968.
Não foi a última
vez que o nome de Zaentz surgiu ligado aos tribunais: a sua propriedade
dos direitos dos romances de Tolkien, assegurada por altura da versão em
animação de O Senhor dos Anéis dirigida por Ralph Bakshi em
1978, levou também a uma série de processos opondo o produtor ao estúdio
New Line, responsável pelas recentes adaptações assinadas por Peter
Jackson.
Zaentz dedicar-se-ia a tempo inteiro ao cinema na década de 1970; a sua primeira produção foi Payday (1972), ambientado no mundo da música country, mas só com Voando sobre um Ninho de Cucos (1975), de Milos Forman, com Jack Nicholson no papel principal, o seu nome é creditado no genérico como produtor.
Um dos filmes mais emblemáticos da “nova Hollywood” dos anos 1970, Voando sobre um Ninho de Cucos foi o primeiro dos três filmes que Zaentz produziu a vencer o Óscar de Melhor Filme. Os outros foram Amadeus (1984), baseado na peça teatral de Anthony Shaffer e também dirigido por Forman, e O Paciente Inglês (1996),
de Anthony Minghella, a partir do romance de Michael Ondaatje, com
Ralph Fiennes, Kristin Scott Thomas e Juliette Binoche.
Produziu igualmente A Costa de Mosquito (1986) de Peter Weir, com Harrison Ford; A Insustentável Leveza do Ser (1988) de Philip Kaufman, a partir do romance de Milan Kundera, com Daniel Day-Lewis e Binoche; e A Brincar nos Campos do Senhor (1991) do brasileiro Hector Babenco, um desastre financeiro que forçou à redução da sua actividade de produtor.
O último filme que produziu foi, em 2006, a sua terceira colaboração com Milos Forman, Os Fantasmas de Goya,
com Javier Bardem e Natalie Portman; pouco antes, desfizera-se do
catálogo da Fantasy, hoje propriedade da multinacional Universal, e
encerrara o Saul Zaentz Film Center, estúdio de pós-produção que
edificara em São Francisco em 1980.
Zaentz, casado por
duas vezes e pai de quatro filhos, morreu em sua casa aos 92 anos de
idade, de complicações relacionadas com a doença de Alzheimer.
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